Compreender os sonhos é um caminho que leva ao conhecimento de si mesmo. Nas palavras do psiquiatra suíço que desenvolveu a Psicologia Analítica, Carl Gustav Jung (1875-1961), necessitamos nos conhecer porque “só aquilo que somos tem o poder de nos curar”. Este artigo contempla a importância de se compreender como os sonhos, especialmente aqueles em forma de pesadelos, podem ser úteis em nossa vida e desenvolver a possibilidade de atuar diretamente no desenvolvimento de nosso ser.

O mundo dos sonhos nos mostra a realidade de outro modo, além daquele que é apreendido pelos sentidos e considerado concreto. O pesadelo também é um sonho, porém, um sonho aflitivo com sensação de angústia, de opressão. No pesadelo, o sonhador pode geralmente acordar assustado ou agitado e com ansiedade. Sendo uma perturbação qualitativa, geralmente sua origem é de ordem psicoafetiva. Sonhos deste tipo podem ser relatados com diversas sensações, como por exemplo, medo, ansiedade, opressão, insegurança, incapacidade, humilhação, etc. Pesadelos são encontrados em todas as culturas e por toda a história. É um tipo de sonho que pede urgência em sua análise; sua intenção é nos despertar para alguma situação inconsciente que precisa se tornar consciente. E, se nos recusamos a escutá-lo e este chamado for importante para nosso equilíbrio psíquico, ele em vez de chamar, passará a gritar na forma de pesadelos ou sonhos repetitivos.

No caso dos pesadelos, eles somente assustam porque ainda estamos muito distantes de nós mesmos e não queremos ver ou sentir o pior de nós, geralmente não aceitando quem realmente nós somos. A partir do momento que passamos a aceitar o que é terrível nos sonhos, eles passam a não mais nos amedrontar. É preciso lembrar que se reprimirmos algo, esse poderá se apresentar de forma bem hostil através de pesadelos. Nestes geralmente surgem como um aspecto nosso, aquilo que criticamos no outro. Podem ser aspectos positivos ou negativos, desconhecidos ou negados de nossa personalidade que necessitam ser desenvolvidos e integrados ao nosso ser. Alguns pesadelos também podem se referir aos objetivos que o indivíduo pretende seguir em seu caminho. Através da aflição e angústia, esse sonho urgente pode cobrar atitudes necessárias para a realização dessas metas ou até para recuperar o prazer de viver.

Na psicoterapia, expor um sonho é como retirar a energia em que ele nos prende, é retirá-lo do seu mundo noturno e traduzir sua natureza. É um facilitador para a consciência, pode-se compreender e encontrar uma solução mesmo que inconsciente, a respeito da questão que o sonho mostrou. Atualmente, é possível observar que muitos pesadelos possuem conteúdos de medo, angustia e solidão, os quais trazem grande sofrimento ao indivíduo. Talvez o fato deva-se à distância criada entre o que somos e o que queremos parecer ser. Num universo de extrema competição, onde o individualismo reina soberano, nossa carência de valores morais e afetivos nos torna predispostos a preencher nosso espaço vazio, com altas doses de medo. Medo de aceitarmos a imperfeição no outro, medo de aceitarmos que a imperfeição no outro também é a nossa imperfeição. É neste ponto que os pesadelos podem surgir, chamando-nos a entrar em contato com nosso mais íntimo, com nossa alma. Enfim, nossos sonhos ou pesadelos não surgem com o objetivo de nos julgar ou nos avaliar, eles procuram apenas conversar com nossa consciência e nos mostrar os caminhos que podem ser seguidos. Aceitar nossas limitações, frustrações, perdas e, principalmente, nossas imperfeições nos aproxima de quem realmente nós somos; não sendo mais necessário ao inconsciente enviar chamados urgentes na forma de pesadelos. Portanto, sonhos podem colaborar efetivamente para o autoconhecimento e desenvolvimento do ser por inteiro. Para Jung, aquilo que não enfrentamos em nós mesmos, encontraremos como destino.

Celi Helena Passos

Psicóloga Clínica – Psicoterapeuta Junguiana – Especialista em Psicossomática E-mail: celihelena@hotmail.com