Sonhos – Quando o inconsciente fala ao consciente

Desde a antiguidade os sonhos têm se mostrado alvo do interesse e das reflexões dos homens; de leigos no assunto a filósofos. A compreensão e importância dadas a estes fenômenos seguem variando ao longo do tempo. Enquanto para a neurociência o sonho é basicamente uma experiência que visa manter a saúde do organismo e do cérebro, para algumas culturas o sonho é uma experiência de expansão da consciência, premonição ou mesmo de mensagens divinas. É provável que os egípcios tenham criado a primeira forma de observar os sonhos, considerando-os como parte de um mundo sobrenatural. Os gregos desenvolveram técnicas sofisticadas de interpretação que foram usadas para diagnosticar e tratar seus doentes. Nos dias de hoje os sonhos são vistos como reflexos da realidade, como consequência normal do ato de dormir ou ainda como uma oportunidade de acessar diretamente nosso inconsciente.

No século XX o estudo científico dos sonhos teve início com Sigmund Freud (1856-1939) que trabalhou na hipótese de que os sonhos não seriam decorrências do acaso, mas estariam associados aos pensamentos e sentimentos do indivíduo. Em sua teoria o conteúdo do sonho teria origem em algum desejo reprimido (em geral sexual ou hostil) e estaria representado por conteúdos manifestos e latentes. Os conteúdos manifestos seriam responsáveis por manter fora da consciência o real objetivo do sonho, enquanto o conteúdo latente seria aquele que revelaria o real desejo por trás do sonho.

Já para Carl Gustav Jung (1875-1961), psiquiatra suíço que desenvolveu a Psicologia Analítica, os sonhos possuem um papel mais amplo, sendo um modo da psique buscar equilíbrio através de uma compensação e levando conteúdos do inconsciente para o consciente. Contêm também símbolos, sentimentos, pensamentos, entre outros elementos. Ao contrário de Freud, Jung não via as situações absurdas ou disfarçadas dos sonhos como uma ‘fachada’ mas sim como sendo uma forma própria de expressão do inconsciente. Portanto, para a Psicologia Analítica, pode-se dizer que os sonhos, quando bem interpretados, revelam o momento psicológico do indivíduo e apresentam aspectos de sua vida emocional.

Os sonhos ocorrem durante dois momentos alternados do sono: Sono REM (rapid eyes movements) e NREM (No rapid eyes movements). Porém, como o sono REM é mais profundo e caracteriza-se por uma atonia muscular. Esse é um momento ‘seguro’ para o indivíduo sonhar, pois não sairá correndo se, por exemplo, estiver sonhando que está numa corrida. Definitivamente o sono não é um fenômeno passivo ou sem função, pois quando dormimos elaboramos nossa história de vida, as nossas experiências e a consolidação da memória.

Na Psicologia Analítica, a interpretação dos sonhos é uma importante ferramenta para análise, pois acreditamos que os sonhos são mensagens do próprio sonhador e servem para comunicar suas necessidades. Através deles é possível nos conscientizar sobre a causa de nossas angústias, conhecer o nosso potencial de vida, poder criativo e a possibilidade de desenvolvimento integral da personalidade. Porém, seu conteúdo nos chega de forma simbólica justamente para acessar o nosso lado não-racional. Todo símbolo possui aspectos inconscientes, valores afetivos, espirituais e significativos. O sonho possui uma simbologia própria de quem o sonha. Assim, é importante reconhecer através do sonhador qual associação está relacionada com o enredo onírico. Por esse motivo é que os dicionários de sonhos não respondem pela subjetividade de cada um. Nesses catálogos um símbolo possui o mesmo significado para todos, independentemente de quem o sonhou. Embora um símbolo seja subjetivo e todo sonho deva receber tratamento individual, existem alguns sonhos (e também símbolos) que ocorrem com certa frequência em várias pessoas. Mesmo estes devem ser considerados dentro do contexto individual e não de maneira generalizada. Se algo é ou não simbólico dependerá daquele que o contempla, pois o símbolo mobiliza o indivíduo e possui significado afetivo para ele.

Então, a análise dos sonhos pode, de forma simbólica e singular, revelar aspectos da personalidade do indivíduo que podem ser trabalhadas em um processo terapêutico. Os sonhos não devem ser encarados como algo estranho, eles são parte de todos nós. Nossa subjetividade é construída através de uma história de vida consciente e inconsciente, ocorrendo à comunicação entre ambos por meio dos sonhos. Nosso inconsciente possui uma inesgotável fonte de saber e energia, que podem nos ajudar a manter nossa saúde psíquica e física. Sim, o sonho é matéria prima para nosso autoconhecimento e qualidade de vida!

Celi Helena

Graduada em Psicologia, Especialista em Psicoterapia Junguiana, Psicossomática e Psicogerontologia. Atua na área clínica com psicoterapia, técnicas corporais de relaxamento, orientação vocacional e de carreira, programas pré e pós-aposentadoria. Participa de palestras/workshops sobre envelhecimento e preparo para a aposentadoria. CRP: 06/104040.
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