No auge da Crise da Meia Idade, e agora?

“A crise da meia idade é um clichê, até você passar por uma”, disse uma jornalista. O auge da sua crise deixou um valioso aprendizado, e é sobre isso que vamos falar aqui.

Quando velhos valores e objetivos deixam de fazer sentido, muitos silenciam seus questionamentos mais íntimos. 

O pior é que tais questionamentos  poderiam ser justamente a ponte para uma nova vida, plena de escolhas livres e felicidade autêntica.

Algumas pessoas, por outro lado, não se conformam e passam – corajosamente – por uma crise no meio da vida.

Quando a alma não pode ser contida

Nem sempre a transição pela meia idade é explosiva. 

Algumas pessoas analisam calma e sabiamente os seus sonhos e desejos reprimidos, buscando novos meios de atingi-los, porém de um modo suave, onde essas novas escolhas passam a ser integradas de forma gradual e equilibrada à sua rotina de vida.

Outras pessoas silenciam seus questionamentos e maculam sua alma com sonhos negligenciados e falta de autoconhecimento, gerando profunda amargura. Não raro passam a enfrentar, em algum momento, quadros patológicos e, até mesmo, doenças psicossomáticas.

Há, ainda, um outro grupo de pessoas, que protagonizam histórias de dor, revolta, renascimento e transformação, que passam a explorar novas formas de viver e descobrem um novo sentido para a vida.

Ela não se ancorou no calmo mar da meia idade

Uma jornalista do The Wall Street Journal assina uma coluna onde registra o conflito entre trabalho e família, bem como seus efeitos na sociedade.

 A coluna foi indicada ao Pulitzer e ganhou 6 importantes premiações.

Um dos seus artigos de maior expressão e engajamento com a audiência foi responsável pelo seu maior best-seller.

Quando a essência é adormecida

Sue Shellenbarger amava a natureza e tinha um sonho genuíno: passar a vida no campo, em uma fazenda, acampando, e quem sabe até casada com um homem do campo.

Porém, no auge dos seus 20 e poucos anos, trocou esses românticos anseios pela construção de uma sólida carreira na cidade.

Casou-se com um executivo bem sucedido – um bom homem de família – e criaram filhos, que se tornaram o centro de suas vidas; o que os manteve absorvidos por anos, conciliando trabalho, família e sono, sem energia física e mental para questionarem qualquer outra coisa.

A dor ressoa

Dores emocionais foram silenciadas, sufocadas pela rotina diária e os problemas do casal viraram cicatrizes. O desgaste do casamento, a morte do pai e o crescimento dos filhos rumo à independência abriu espaço para um novo momento em sua vida.

Foram 4 anos de profunda inquietação e questionamento, culminando em episódios polêmicos. Sue passou a se refugiar – de forma inconsciente –  justamente nos sonhos reprimidos da juventude.

O renascimento

Os dias de Sue passaram a girar em torno de florestas, desertos ou montanhas, praticando esportes de aventura, andando de esqui ou quadriciclo. 

O seu círculo social mal a reconhecia, isso quando não a reprovava tacitamente, pelas “inconsequentes” viagens e “lapsos sociais”, ignorando afazeres da rotina para investir energia e tempo nas polêmicas aventuras. Uma delas resultou num acidente de quadriciclo responsável por deslocar de forma irreversível  sua clavícula.

Relatar esse episódio em sua coluna do jornal, acompanhado de todos os sentimentos que estavam aflorando em sua jornada, abriu uma janela inesperada. Diversos leitores sentiram-se representados por ela pois viveram dores similares, momentos de “rebeldia”, cercados de incompreensão.

Novas oportunidades florescem

Aquele relato movimentou diversos contatos de leitores, que passaram a responder com suas próprias experiências, resultando numa iniciativa que se consagrou como um novo marco na história de Sue: um estudo em campo sobre a crise da meia idade.

Como as pessoas a vivenciam? Quais as lições deixadas? Como lidar com a crise da meia idade? Quais os fundamentos psicológicos sob a perspectiva junguiana? 

Ao cruzar toda essas experiências com entrevistas e estudos como:

–  a Pesquisa de Harvard sobre Desenvolvimento Humano (liderada por George Valliant)

– o Estudo sobre Envelhecimento Bem Sucedido da Fundação MacArthur, e 

a A 3a Idade: 6 Princípios para Crescimento e Renovação após os 40 (William A. Sandler), 

Dentre outras ricas referências, Sue publicou um conteúdo de alto impacto, refletindo um sentimento que muitos vivenciam mas nem sempre percebem o poder de transformação existente nele.

Legado de lições

Reprimir desejos, partes criativas, produtivas, ou até mesmo a própria identidade tem um preço.

É fundamental incorporar o seu verdadeiro “eu” na sua vida e experimentar os mais íntimos desejos, ou ficar em paz pelo fato de alguns não serem possíveis.

Muitas vezes, a crise da meia idade é o precedente para a descoberta do verdadeiro sentido da própria vida. Lidamos com uma cultura que muitas vezes subestima a possibilidade de desenvolvimento, crescimento e mudança aos 40 e muito além. Contudo, nessa transição, existe um poder psicológico sobre a mente, o qual é objeto de muitos estudos.

Para Sue Shellenbarger, essa força se origina de uma fonte: “a surpreendente descoberta de que, na meia idade, ainda há muito a ser vivido, de que a vitalidade da alegria, da sexualidade e da autodescoberta  ainda está presente, mais forte e motivadora do que nunca”.

A crise da meia idade, crise do meio da vida –  ou também reconhecida na Psicologia analítica  como metanóia – molda, no fundo, o bem estar na velhice e traduz um legado  de aprendizados e experiências para as próximas gerações.

As escolhas que são feitas moldam o próprio futuro. Quais são as decisões que você precisa tomar para moldar generosamente o seu?

Celi Helena

Graduada em Psicologia, Especialista em Psicoterapia Junguiana, Psicossomática e Psicogerontologia. Atua na área clínica com psicoterapia, técnicas corporais de relaxamento, orientação vocacional e de carreira, programas pré e pós-aposentadoria. Participa de palestras/workshops sobre envelhecimento e preparo para a aposentadoria. CRP: 06/104040.
Celi Helena

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